sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Pensar o Cristianismo

A palavra "messias" vem do hebraico "masiah" (e do aramaico "mesiah"). Significa ungido (consagrado), que, em grego, se diz "christós". A nossa língua adoptou tanto a palavra hebraica como a tradução grega: Messias e Cristo.
Por que será que Jesus não mostrou nenhum entusiasmo quando lhe chamaram "Messias de Deus" e exigiu aos discípulos que não tocassem mais no assunto? Que viragem tornou inseparáveis, desde há dois mil anos, o nome de Jesus e o título Cristo (ou Messias)?
Na herança de Israel, além do messianismo religioso-político, havia várias outras tendências fortemente contrastadas e em contínua mudança sobre a forma como o Messias se devia manifestar e agir. Nenhum desses modelos se ajustava, porém, à significação que Jesus imprimiu ao seu modo de agir e de falar. Nenhum deles correspondia sobretudo àquilo de que o mundo mais precisava.
A partir da sua experiência do Amor infinito e do seu contacto diário com os mal-amados deste mundo, viu que era preciso alterar até à raiz a relação do homem com Deus, a relação de cada um consigo mesmo e com os próprios inimigos. Esta é a essência da sua pregação sobre o Reino de Deus: uma semente, um fermento para mudar a direcção da vida e a própria vida.

Jesus não morreu de velho, de doença ou de um acidente. Foi morto por tentar romper com os esquemas que atam os homens à lógica da dominação. Na sua morte, acompanhado pela compaixão e pelo perdão aos inimigos, abriu o caminho para a reunião de todos os filhos de Deus dispersos pela ambição, pela intolerância e pelo ódio. Introduziu na história humana o fermento de uma outra lógica: a da compaixão, do perdão e da solidariedade.


Quem, como Jesus, perde a vida para não trair o sentido da vida como dom incondicional para a alegria de todos, ajuda a transformar radicalmente o fundamento da esperança e do messianismo. O futuro não pertence àqueles que matam, mas a quem dá a vida pelos outros: quem perde, ganha; quem teima em ganhar à custa dos outros já está perdido.


A tentação do recurso à violência para responder à violência é de todos os tempos e não é exclusividade de ninguém. É a lição de Cristo vivo na Liturgia de hoje, a propósito dos "filhos do trovão". Como dizia Isaac, o Sírio, no séc. VII: "Sê um perseguido e não um que persegue. Sê um crucificado e não um que crucifica. Sê um ultrajado e não um que ultraja. Sê um caluniado e não um que calunia. (...) Purifica-te e verás o céu dentro de ti."


Para Alexksandr Men, morto na Rússia em 1990, só homens muito limitados podem imaginar que o cristianismo já está concluído. Na realidade, só deu os primeiros passos, passos tímidos na história do género humano. A história do cristianismo está sempre a começar. Tudo o que foi conseguido no passado, tudo aquilo que agora chamamos história do cristianismo, não é mais do que um conjunto de tentativas - algumas em falso, outras mal conseguidas - para o realizar.


A essência do cristianismo não é a conserva de uma herança, a salvaguarda de um passado: "Quem olha para trás depois de deitar a mão ao arado, não está apto para o Reino dos Céus", diz-nos Cristo na Missa de hoje. Os chamados "conservadores cristãos" são os guardas ruidosos de um túmulo vazio.
(Excerto de um texto de Frei Bento Domingues)


A luta entre o bem e o mal, entre Deus e o Diabo parece ser o maior mal da humanidade. Os povos mais primitivos criam haver muitos deuses, cada um comandando uma força da natureza, e a vontade dos deuses das coisas boas, produto das cabeças dos seus seguidores, era o bem a ser seguido.


Os persas simplificaram um pouco o universo divino, com Masda (deus do bem) e Arimã (deus do mal). Já os hebreus, monoteístas, idealizaram Satanás, o anjo caído, como comandante das forças do mal. Entretanto, os chamados defensores do bem sempre fizeram muito mal à humanidade.

Os reis do Egipto, da Babilónia e outros que se destacaram no passado assassinavam os que não se curvassem e adorassem seus deuses.

Ainda que perfeito, justo e bom, o omnipotente Jeová teria determinado ao seu povo escolhido a destruição de diversas nações e se comprazia com o cheiro da carne queimada de animais e até mesmo a morte de seres humanos que lhe eram oferecidos. Sua vingança atingia até a terceira e a quarta geração de quem desobedecesse à sua vontade.

Jesus, o Cristo, não pregou violência. Seus seguidores deveriam resignar-se a todas as injustiças e convencer o mundo à paz, devendo receber sua recompensa após o dia do julgamento divino em que os maus sofreriam o devido castigo. Mas os que se denominaram seus sucessores, seus representantes na Terra, entregaram-se à vingança e destruição de todo e qualquer indivíduo que se opusesse às suas regras. Milhares de pessoas foram queimadas ou mortas sob outras formas de tortura, tudo em nome do bem, em nome de Deus.

Hoje, quando grande parte das religiões são pacíficas, algumas ainda procuram fazer guerra santa contra quem não compartilhe de seus credos, e o terrorismo que assusta o mundo actual também é chamado de guerra do bem contra o mal. Mas, que bem é esse, que reprime os prazeres, impõe até os pensamentos e comete grandes atrocidades?

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O Rebanho



"Queres meu irmão, isolar-te? Queres procurar o caminho que te guia a ti mesmo? Espera ainda um momento e ouve-me. "o que procura é um erro".

Assim fala o rebanho.E tu pertenceste ao rebanho durante muito tempo. Em ti também ainda há-de de ressoar a voz do rebanho.


E quando disseres "Já não tenho uma consciência comum convosco", isso será uma queixa e uma dor. Essa mesma dor é filha da consciência comum, e a última centelha dessa consciência ainda brilha na tua aflição.


Queres, no entanto, seguir o caminho da tua aflição, que é o caminho para ti mesmo? Demonstra-me o teu direito e a tua força para isso (...) Obrigas muitos a mudar de opinião a teu respeito; por isso te consideram. Abeiraste-te deles, e contudo, passaste adiante; é coisa que te não perdoam. Elevaste-te acima deles: mas quanto mais alto sobes mais baixo te vêm os olhos da inveja. E ninguém é tão odiado como o que voa.


" Friedrich Nietzsche, Assim Falou Zaratrusta

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Cântico negro


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces

Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom que eu os ouvisse

Quando me dizem: "vem por aqui!"

Eu olho-os com olhos lassos,

(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:

Criar desumanidades!

Não acompanhar ninguém.

— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde

Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde

Por que me repetis: "vem por aqui!"?


Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,

Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,

A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!

O mais que faço não vale nada.


Como, pois, sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?...

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátria, tendes tetos,

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...

Eu tenho a minha Loucura !

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

Mas eu, que nunca principio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,

Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou,

É uma onda que se alevantou,

É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,

Não sei para onde vou

Sei que não vou por aí!


(José Régio)

A Necessidade dos chefes

De todos os hábitos a que nos entregamos, um reina sobre todos os outros no que se refere a malefícios quanto ao mundo futuro. Ê o hábito de ter chefes. O medo das responsabilidades, o gosto de se encostar aos outros, o jeito mais fácil de não ter que decidir os caminhos fizeram que a cada instante lancemos os olhos à nossa volta em busca do sinal que nos sirva de guia. Quando surge uma dificuldade de carácter colectivo, a primeira ideia é a de que devia surgir um homem que tomasse sobre os seus ombros o áspero martírio de ser chefe. Pois bem: pode ser que isto tenha trazido grandes benefícios em outras crises da História; nem vale por outro lado a pena saber o que teria sido a dita História se outras se tivessem apresentado as circunstâncias. Mas, na presente, a verdadeira salvação só virá no dia em que cada homem se convencer de que tem que ser ele o seu chefe. Ou, dentro dele, Deus.

Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

As pessoas sensíveis


As pessoas sensíveis
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão".

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.




Sophia é a poetisa da justiça e da verdade. Vivemos num mundo onde a hipocrisia e a critica é dominante. Critica-se quem constrói, mas os outros usufruem, critica-se quem eleva a voz, os outros calam-se e disso se aproveitam, critica-se tanta coisa! De facto, aqueles que criticam são pessoas sensíveis! Não matam galinhas, comem-nas!


Vivemos também numa sociedade onde os pobres, porque são pobres ficam em tanta coisa à margem. A chuva secou a sua roupa porque não tinham outra. O dinheiro é pouco, a roupa cheira à pobre. E julgamos nós tantas vezes que temos dignidade para julgar os outros pela aparência.

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto", assim nos é dito. Mas somos diariamente confrontados com notícias de corrupção… e quem paga é o povo!

Criticam-nos porque queremos crescer, porque fazemos pela vida, porque queremos ter um nível de vida melhor. Criticam-nos porque não vivemos só de acções de solidariedade, porque não vivemos a homenagear as altas entidades, porque não trabalhamos nos templos. E querem-nos convencer que tudo o que fazem é devoção e nada de proveito!

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

Interpretação do poema feita por Xicca


Nota: Nascida no Porto, filha de pai dinamarquês, Sophia de Mello Breyner teve uma educação católica e culturalmente privilegiado que influenciou a sua personalidade. Frequentou o curso de Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e teve uma intervenção política empenhada, opondo-se ao regime salazarista (foi co-fundadora da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos) e também, após o 25 de Abril, como deputada. Presidiu ao Centro Nacional de Cultura e à Assembleia Geral da Associação.
O ambiente da sua infância reflecte-se sobretudo nos seus livros para crianças.

A civilização grega é igualmente uma presença recorrente nos versos de Sophia, através da sua crença profunda na união entre os deuses e a natureza.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Pergunta-me


Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer



(Poema de Mia Couto)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Assesor e o Coveiro

Este país do faz-de-conta é cada vez mais uma anedota pegada.

Diário da República nº 255 de 6 de Novembro 2008:

EXEMPLO 1
No aviso nº 11 466/2008 (2ª Série), declara-se aberto concurso noI.P.J. para um cargo de "ASSESSOR", cujo vencimento anda à roda de3500 EUR (700 contos).
Na alínea 7:..." Método de selecção a utilizar é o concurso de prova pública que consiste na ... Apreciação e discussão do currículo profissional do candidato."

EXEMPLO 2
No aviso simples da pág. 26922, a Câmara Municipal de Lisboa lançaconcurso externo de ingresso para COVEIRO, cujo vencimento anda à rodade 450EUR (90 contos) mensais.


Método de selecção:Prova de conhecimentos globais de natureza teórica e escrita com aduração de 90 minutos.
A prova consiste no seguinte:
1. - Direitos e Deveres da Função Pública e Deontologia Profissional;
2. - Regime de Férias, Faltas e Licenças;
3. - Estatuto Disciplinar dos Funcionários Públicos.

Depois vem a prova de conhecimentos técnicos: Inumações, cremações,exumações, trasladações, ossários, jazigos, columbários ou cendrários.

Por fim, o homem tem que perceber de transporte e remoção de restos mortais.Os cemitérios fornecem documentação para estudo.

Para rematar, se ocandidato tiver:
- A escolaridade obrigatória somará + 16 valores;
- O 11º ano de escolaridade somará + 18 valores;
- O 12º ano de escolaridade somará + 20 valores.

No final haverá um exame médico para aferimento das capacidadesfísicas e psíquicas do candidato.

ISTO TUDO PARA UM VENCIMENTO DE 450 EUROS MENSAIS!
Enquanto o outro, com 3,500!!! Só precisa de uma cunha.


POR ESTAS E POR OUTRAS, É QUE EXISTEM COVEIROS CULTOS E ACESSORES ESTÚPIDOS.

Publico tal como recebi
...

Mundo Islâmico versus Mundo judaico-cristão

A propósito dos comentários de D. José Policarpo, não penso que sejam ofensivos, só mentes muito perturbadas e hipersensiveis poderão sentir indignação. Quem pensa de forma diferente, deve-se informar acerca da cultura islâmica e da mentalidade subjacente a esta. A realidade é que existem muitas diferenças entre a cultura judaico-cristã e a cultura islâmica nomeadamente no que diz respeito ao papel da mulher.

No livro "O livreiro de Cabul" escrito por uma jornalista que permaneceu durante um certo período na residência de uma família islâmica, as mulheres são simples empregadas dos seus maridos, não têm dignidade nenhuma.

O livreiro mencionado no título deste livro, despreza a sua primeira esposa por causa da sua idade e casa-se novamente com uma menina que tem idade para ser sua neta, pois estes podem ter 4 mulheres simultaneamente. A companheira dedicada que o acompanhara com zelo durante toda a vida é desprezada por estar a envelhecer e é trocada por uma nova esposa!

Outra coisa interessante é o facto das mulheres serem obrigadas a manter-se indiferentes quanto ao seu próprio destino! Quando lhe é perguntado a respeito de um futuro casamento com um pretendente escolhido pela sua família, elas não podem demonstrar nenhum sentimento, seja ele de concordância ou de repulsa pelo futuro noivo.

A mulher deve manter-se calada para demonstrar obediência!
Neste livro conta-se a história de uma menina que estava a receber secretamente cartas do seu vizinho. Num belo dia eles resolvem entrar num táxi e dirigir-se a um parque para dar um passeio. A menina apreensiva, não permaneceu muito tempo ao lado do rapaz e voltou logo para a sua casa. Quando lá chegou foi espancada pela sua família, que tinha descoberto as cartas e o passeio ao parque.

Todos na redondeza passaram a tratar a pobre coitada como se fosse uma prostituta! E, no fim de contas, ela seria obrigada a receber como marido o rapaz!Bem, tem muitas histórias terríveis relacionadas as mulheres neste livrio, se puder leia. Vale a pena!


Outra posição interessante é a da Psicóloga árabe Wafa Sultan
Aqui vai o link do video e um comentário interessante em Inglês tal qual eu o recebi.

Arab-American psychologist from Los Angeles

http://switch3.castup.net/cunet/gm.asp?ai=214&ar=1050wmv&ak


It is extremely surprising that the Arab financed TV station in Dubai would allow this to air. Be sure to watch this, it is so powerful I have no doubt she now has very large price on her head. I also have no doubt it won't be on the net very long. She is one impressive woman.


Nota:
"O livreiro de Cabul" de Asne Seierstad da Editorial Presença

Asne Seierstad é licenciada em Filologia Russa e Espanhola pela Universidade de Oslo. Nos últimos dez anos tem trabalhado como correspondente de guerra para diversos meios de comunicação escandinavos.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A VIDA NA CIDADE MAIS FRIA DO MUNDO

Yakutsk é uma cidade remota na Sibéria Oriental (população: 200 mil) é famosa por deter a fama de ser a cidade mais fria da Terra.

Eis o relato de um viajante:

A 5°C negativos o frio pode ser refrescante. A 20°C negativos a humidade no nariz congela-se e fica difícil não tossir. A 35°C negativos a pele exposta ao ar fica dormente e a necrose é um risco. E a menos 45°C até usar óculos fica complicado. O metal gruda-se no rosto e nas orelhas e rasga pedaços da pele quando se quer tirá-los.




















Sei disso porque acabo de chegar a Yakutsk, lugar onde os amistosos nativos me alertaram para não usar óculos ao ar livre.
Em Janeiro a média fica em torno de 40°C negativos. A névoa que cobre a cidade restringe a visibilidade a 10 metros.
Moradores em pesados casacos de pele passam pela praça central, adornada por uma árvore de Natal congelada e uma estátua de Lenin. Logo descobri que, ali, temperaturas na casa dos 40°C negativos são descritas como 'frio, mas não muito frio
Sendo assim, antes de me aventurar pela primeira vez nas ruas de Yakutsk, encapotei-me com toda uma mala de roupas.

Eis o que estou a vestir:

um par e meias de algodão com um par de meias térmicas por cima;
um par de botas; ceroulas térmicas;
uma calça jeans;
uma camiseta térmica;
uma camiseta de mangas compridas;
um suéter justo de caxemira;
um abrigo desportivo;
um casaco acolchoado de invemo com capuz;
um par de luvas finas de lã (para que eu não exponha a pele quando tirar a luva externa para fazer fotos);
um par de luvas de lã;
um cachecol de lã;
e um boné, tambem revestido de lã.

Saindo do quarto como se fosse o boneco Michelin, e já a suar por causa do sistema de aquecimento do hotel, decido que estou pronto para encarar Yakutsk.
Caminho porta fora e... bem, não acho tão ruim.
A pequena fresta do meu rosto que está exposta registra o ar frio, mas no geral a sensação é boa, até agradável. Desde que você esteja vestido correctamente, penso eu, não é assim tão ruim.

Em poucos minutos, porém, o clima gélido passa a impor-se.
A pele exposta começa a dar pontadas e depois fica adormecida,
o que aparentemente é perigoso, porque significa que o fluxo de sangue
para o local parou.

Então o frio penetra pela dupla camada de luvas e congela os meus dedos.
O boné e o capuz tampouco são páreo para os 43°C negativos e as minhas orelhas começam a pinicar.
Em seguida as pernas sucumbem.
Finalmente vejo-me com dores agudas pelo corpo todo e tenho de voltar a um ambiente fechado. Olho no relógio. Fiquei ao ar livre por 13 minutos.

Yakutsk é a capital da Yakutia, região que abrange mais de 2.6 milhões de quilómetros quadrados e onde vivem menos de 1 milhão de pessoas.

A cidade fica a seis fusos horários de Moscovo, mas a viagem leva seis horas num precário avião Tupolev. Não há caminho de ferro até Yakutsk.

As outras opções são uma viagem de 1,6 mil quilómetros de barco subindo o rio Lena, nos poucos meses do ano em que ele não está congelado, ou então a 'estrada dos Ossos', uma estrada de 2 mil quilómetros construída por prisioneiros do Gulag (o sistema penal soviético).

Em Yakutsk a maioria dos carros é de importados japoneses de segunda são, que aparentemente resistem melhor ao frio do que os veículos russos tradicionais.

Ainda assim, os moradores costumam deixar o motor a funcionar se vão parar apenas por meia hora, e alguns deixam-no ligado o dia inteiro, durante o expediente de trabalho, para garantir uma temperatura minimamente tolerável na volta para casa.

A fumaça dos escapamentos contribui para a névoa que paira sobre a cidade.
A região foi inicialmente conquistada pelos russos na década de 1630. No século 19 era usada como prisão aberta para dissidentes políticos. Anton Chekhov, na sua Jornada de 1890 pela Sibéria, pintou um quadro sombrio da vida dos prisioneiros ali.

'Eles perderam todo o calor que já tiveram', escreveu. 'As únicas coisas que lhes restam na vida são vodca, vagabundas, mais vagabundas, mais vodca... Não são mais seres humanos, mas bestas selvagens.' Lenin e Stalin foram dois dos presos politicos exilados em Yakutsk.

A região é rica em ouro e diamantes, razão pela qual os soviéticos decidiram transformar Yakutsk num importante centro regional, primeiro com o sistema de trabalho forçado do Gulag, depois colonizando a região com milhares de voluntários em busca de aventura, melhores salários e a chance de construir o socialismo no gelo.

A megaempresa Alrosa, responsável por 20% da oferta mundial de diamantes brutos, tem sua sede na região. Com o tempo, Yakutsk virou uma cidade de verdade, com hotéis, cinemas, uma ópera, universidades, entrega de pizza e ate zoológico.
Apesar dos nativos manterem estoicamente os seus afazeres e de criancas brincarem na neve da praça central, percebo que preciso de um táxi para continuar a minha exploração.

Os 13 minutos que passei ao ar livre deixaram-me sem fôlego, praguejando e cheio de dores, o meu rosto ficou tão vermelho que parece que acabo de voltar de uma semana nas Caraibas.

Desabo na cama do hotel e preciso de meia hora para voltar a sentir meu corpo. A parte mais desagradável começa 15 minutos depois, quando as pernas, de volta à temperatura habitual, sentem uma cãibra quente sendo irradiada de dentro para fora, e todo o corpo começa a coçar.

Vou ao mercado, cheio de gente a vender peixe, porcos e coração de cavalo, tudo congelado. 'É claro que faz frio, mas as pessoas acostumam-se', diz Nina, uma yakut que passa oito horas por dia de pé na sua banca de peixes. 'Os seres humanos acostumam-se com qualquer coisa.'














Mas ainda assim o nível de resistência é dificil de compreender. Os operários continuam a trabalhar na construção civil até aos 50°C negativos (abaixo disso o metal torna-se quebradiço) e as aulas só são suspensas quando o termómetro cai abaixo de menos 55°C (embora o jardim-de-infância feche com menos 50°C).

Quase sem exceção, as mulheres cobrem-se da cabeça aos pés com peles, muitas delas produzidas ali mesmo. Nesse clima a ética pouco importa. 'Vi na televisão que na Europa existem lunáticos que dizem que não é ético usar pele porque eles amam os animais', diz Natasha, uma moradora de Yakutsk que veste um casaco de coelho e um encantador chapéu de raposa ártica.

'Deveriam vir para cá para ver se ainda se preocupam tanto com os animais. Aqui nós precisamos de vestir peles se quiseremos sobreviver.

Depois de ler o relato deste viajante cujo nome ignoro, digam lá se isto aqui, neste cantinho à beira mar plantado não é um paraiso!!!!!!!!!!!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Por quê dizer não aos transgênicos?

Podemos citar dezenas de excelentes motivos para se dizer "NÃO" aos alimentos geneticamente modificados, enquanto os defensores dos transgênicos só têm um argumento de peso a seu favor: o lucro.
A ganância por ganhar cada vez mais está a fazer muitos produtores fecharem os olhos para os problemas causados pelos transgênicos, e o pior é que nem o próprio lucro está comprovado, pois segundo dados fornecidos pela Comissão Técnica de Bio-segurança, os transgênicos são menos aceites que os convencionais, e por isso, quem produz transgênicos, acaba por produzir menos.

Entre os anos de 1996 e 2001, período de grande crescimento do plantio de alimentos geneticamente modificados nos Estados Unidos, a produção por hectare cresceu só 4%, enquanto que , com sementes convencionais, durante o mesmo período, a produção aumentou 25%.

Outro grande motivo para se dizer "NÃO" aos transgênicos é que os mesmos podem ser patenteados, e quando não existir mais sementes convencionais no mercado, as empresas detentoras dos seus direitos poderão cobrar quanto quiserem pelas suas sementes, fertilizantes e agrotóxicos, controlando como queiram o mercado e o que deve ser utilizado pelo produtor.

Por isso, o que é barato e lucrativo para ser produzido hoje, amanhã pode ser o pesadelo de quem planta. Os lucros da agricultura podem ser transferidos num passe de mágica para as indústrias dos transgênicos.

O agrónomo Marcelo Silva, especialista em transgênicos, explicou que a “semente suicida”, também conhecida como “terminator seed” é uma técnica de transgenia que permite a produção de sementes que geram plantas normais na aparência, que dão flores normais até o momento em que o grão se forma. “Nesta etapa, a planta mata o germe do grão. O agricultor colhe então um grão estéril”, disse.


Diga Não aos transgênicos, pois empobrecem genéticamente as sementes elaboradas ao longo de decénios ou até mesmo milénios, portanto mais resistentes e necessitando de menos produtos quimicos e cujo mérito em termos de saúde está já comprovado
contrariamente aos transgênicos.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Pensamento do dia

"O UNIVERSO É SEMELHANTE A UM FOLE DE FORJAR. VAZIO ESTÁ SEMPRE CHEIO." Lao Tsé

O Universo não tem preferências,
Todas as coisas lhe são iguais.
Assim, o sábio não conhece preferências,
Como os homens as conhecem
O Universo é como o fole de uma forja,
Que embora vazio, fornece força,
E tanto mais alimenta a chama quanto mais o accionamos.
Quando mais falamos no Universo, menos o compreendemos.
O melhor é auscutá-lo em silêncio.

(Huberto Rhoden)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

6 Conselhos para ser Feliz

  • SEJA HUMANO - Se encarar as emoções negativas com naturalidade - tais como o medo, a tristeza ou a ansiedade - vai superá-las muito mais depressa.

  • DESCUBRA O CAMINHO DO MEIO - A felicidade encontra-se entre o prazer e o significado. Invista em actividades que sejam agradáveis mas que tenham um significado para si.

  • DEFINA PRIORIDADES - A nossa felicidade depende do9 nosso estado de espirito e não da conta bancária. Temos de dar importância apenas ao que importa.

  • SIMPLIFIQUE - Não procure fazer tudo o que pode. Diminua as actividades. A quantidade influência a qualidade de vida.

  • LIGUE O CORPO À MENTE - Tudo o que fazemos com o corpo influência a mente e vice versa. Comer bem, dormir bem e fazer exercícios é fundamental.

  • AGRADEÇA SEMPRE - Temos de apreciar tudo o que temos. Sempre que possivel mostre-se grato por tudo o que de bom a sua vida tem.

( Tal Ben-Shahar)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Comida "Plástica"

Vejam este video do youtube e pensem se devem ceder à tentação e deixarem-se enganar por esta comida viciante, nociva e sobretudo barata.

http://www.youtube.com/watch?v=crcAffrNk1s&feature=related

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Táxi Solar


Olá mais um ano e eis-nos de volta. Como todos já devem ter percebido, uma das minhas preocupações tem a ver com o nosso ambiente cada vez mais poluído, por isso todas as iniciativas no sentido de despoluir o planeta têm em mim uma adepta. Desta vez tive conhecimento da história do aventureiro suíço Louis Palmer que está a fazer uma volta ao mundo com o seu "táxi" solar.



O "Solartaxi" é o primeiro veículo movido à energia solar a dar a volta ao mundo. A viagem começou em Julho de 2007. O ponto inicial de partida foi Lucerna, na Suíça central.


Em 14 meses, Louis Palmer, 36 anos e professor de profissão, já conseguiu percorrer 43 mil quilómetros e visitar 28 países.


"E tudo isso sem gastar um tostão em gasolina", ressalta Palmer, que em Nova Iorque apresentou à comunicação social seu veículo no Museu Nacional de Design Cooper-Hewitt, acompanhado pelo cônsul-geral da Suíça na cidade, Christoph Bubb.
"O Solartaxi anda como um relógio suíço", disse. Com as baterias cheias, o veículo de dois lugares faz 300 quilômetros, podendo também alcançar uma velocidade máxima de até 90 quilometros.


Acção ao invés de promessas


Com a sua peripécia, Palmer realiza um sonho de criança. Já em 1986, aos 14 anos de idade, ele sonhava em dar a volta ao mundo com um carro que não fosse nocivo ao meio-ambiente. Então ele fez os primeiros planos no papel.
Como até hoje ainda o veículo não existe no mercado, o jovem suíço decidiu pegar os instrumentos para construir ele mesmo um. Depois foi atrás de apoio técnico e patrocinadores.


Mundialmente discute-se sobre o problema da mudança do clima e, sobretudo, sobre alternativas ao petróleo. Porém pouco ainda foi concretizado. O planeta aguarda respostas aos seus problemas mais prementes. "Com essa viagem quero mostrar que existem tecnologias e meios sustentáveis de resolver a crise energética. E que elas também são praticáveis", declarou.


Se o aventureiro consegue percorrer o globo com seu "Solartaxi", não existe justificativa para que a tecnologia não vire padrão técnico. Palmer espera que os investidores e a indústria sejam convencidos da viabilidade da energia solar no transporte.


Será que o suíço considera um "salvador" da pátria? "Não, eu quero apenas provar que existem saídas para o problema energético. O Solartaxi serve como uma espécie de aula prática para que todos vejam que existem alternativas. A alegria de viver é importante para mim. Eu não quero dar lições de moral às pessoas".


Não apenas ecológico, mas barato também


Um automóvel movido à energia solar não é apenas ecológico, mas também barato, como explicou Palmer durante uma apresentação organizada nas margens do rio Hudson, onde foi muito aplaudido pelo público. "Se eu puxo um dólar de energia da tomada, posso percorrer 100 milhas".
"É uma vergonha que alguém originário de um país que não tem indústria automobilística mostre aos americanos que o automóvel solar não é uma ideia de loucos", comentou um arquitecto à jornalista da swissinfo.
Outro visitante afirmou: "Eu não tinha ideia que na Suíça existam tantas pessoas aventureiras e inovadoras como ele".


Passageiros famosos ou não


Para levar sua mensagem às pessoas, Palmer construiu o seu veículo como um táxi. Aonde ele chega, as portas são abertas para transportar alguém num curto trajecto. Eles são pessoas normais ou até mesmo estrelas ou personalidades mundiais.
Durante a conferência do clima organizada em Bali pela ONU, o Solartaxi chamou muita atenção. Nos Estados Unidos, um tal projecto só se pode tornar sensação pública.
"Fomos recebidos por todos os lugares de forma calorosa e receptiva. O carro chama atenção. O interesse é enorme. A sua visita à Capital em Washington chegou mesmo a ocupar as manchetes dos maiores jornais dos EUA.
Dentre as personalidades americanas já carregadas por Palmer no seu "táxi" estão Michael Bloomberg, prefeito de Nova Iorque, o director de cinema James Cameron ("Titanic") e o apresentador de TV Jay Leno.


Produção em série possível


O "Solartaxi" foi construído pela Escola Superior Técnica (HTA, na sigla em alemão) de Lucerna e pela Escola Politécnica de Zurique (ETH) junto com parceiros da iniciativa privada na Suíça. As células voltaicas vieram da Alemanha.
Apesar do veículo ser uma peça única, Palmer está convencido da possibilidade de produzi-lo em série. "O carro, incluindo também as células solares, poderiam ser lançadas no mercado por aproximadamente 15 mil francos suiços", afirmou.
80 dias a dar a volta ao mundo
A viagem já fez Palmer percorrer a Europa, o Médio Oriente, Ásia, Austrália, Nova Zelândia, Canadá e agora através dos Estados Unidos. De Nova Iorque, África e de novo Suíça.


E depois? Medo de um vazio após um ano e meio andando pelos quatro cantos do mundo? "Não, não realmente. Eu já tenho novos planos".
Palmer quer organizar uma nova corrida internacional, da qual ele mesmo participaria. O lema do projecto é inspirado no escritor francês Jules Verne: "Dar a volta ao mundo em 80 dias com fontes energéticas renováveis".


swissinfo, Rita Emch